Microplásticos: Estudo revela a presença nas profundezas oceânicas

Por Conteúdo e Produto | 05/05/2025

Microplásticos nos oceanos representam uma das maiores ameaças ambientais da atualidade, e um estudo internacional mapeou pela primeira vez a trajetória global desses fragmentos plásticos, desde a superfície até o fundo do mar. A pesquisa revela como milhões de toneladas de resíduos plásticos, lançadas todos os anos nos mares, estão alterando o equilíbrio do maior habitat da Terra.

Por que a poluição por microplásticos é um problema?

A poluição por plástico no oceano é um problema de escala planetária. Estima-se que entre 9 e 14 milhões de toneladas métricas de plástico sejam despejadas nos oceanos anualmente, vindas de todos os continentes habitados. Dentre esses resíduos, os microplásticos – fragmentos com tamanho entre 1 micrômetro e 5 milímetros – são os mais abundantes e perigosos, por sua capacidade de se infiltrar em sistemas marinhos vitais.

Pesquisas anteriores concentravam-se principalmente nas águas superficiais, com coleta de amostras limitadas aos primeiros 50 centímetros da coluna d’água. No entanto, os microplásticos não se comportam de maneira uniforme: sua forma, densidade e tipo de polímero determinam sua dispersão e profundidade. Por isso, entender sua movimentação exige uma abordagem mais profunda, literalmente.

A pesquisa sobre microplástico nos oceanos

Foi exatamente isso que uma equipe de cientistas internacionais conseguiu fazer. Liderados por um pesquisador da Florida Atlantic University (FAU), os estudiosos analisaram amostras de 1.885 locais diferentes, coletadas entre 2014 e 2024. O resultado foi um mapeamento inédito da distribuição dos microplásticos nos oceanos, incluindo a superfície, a coluna d’água e o leito marinho.


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A pesquisa, publicada na revista Nature, mostrou que os microplásticos menores – de 1 a 100 micrômetros – penetram mais profundamente na coluna d’água e se distribuem de forma mais uniforme. Já os maiores – de até 5 milímetros – tendem a se acumular nas camadas superiores, especialmente nos giros oceânicos, grandes redemoinhos onde resíduos flutuantes são concentrados.

Um dos achados mais preocupantes é que os microplásticos estão se tornando uma parte mensurável do ciclo de carbono oceânico. A uma profundidade de 30 metros, eles representam 0,1% das partículas de carbono, mas esse número sobe para 5% a 2.000 metros de profundidade. Isso pode impactar processos biogeoquímicos cruciais e, por consequência, influenciar diretamente o clima global.

A coluna d’água do oceano, responsável por absorver dióxido de carbono (CO₂) e sustentar metade da produção primária do planeta, está sendo gradualmente afetada por esses resíduos. À medida que os microplásticos interagem com partículas orgânicas e inorgânicas, podem alterar a dinâmica da cadeia alimentar marinha e da regulação climática.

O que é coluna d’água do oceano?

A coluna d’água é o perfil vertical da água do mar, que vai desde a superfície do oceano até o fundo marinho. Ela é como uma “fatia” vertical do oceano, e sua análise é essencial para compreender os diferentes processos físicos, químicos e biológicos que ocorrem em profundidades distintas.

Essa coluna é dividida em zonas ou camadas, cada uma com características muito específicas em termos de temperatura, salinidade, luz, pressão e vida marinha. As principais camadas da coluna d’água incluem:

Zona Epipelágica (0 a 200 m) – “Zona de Luz”

Nessa faixa, a luz solar penetra em quantidade suficiente para permitir a fotossíntese, tornando o ambiente rico em fitoplâncton — base da cadeia alimentar marinha — e em zooplâncton. Por abrigar condições favoráveis à vida, é nesta região que se concentra a maior parte dos organismos marinhos visíveis, como peixes, tartarugas, mamíferos aquáticos e muitos outros.

Zona Mesopelágica (200 a 1.000 m) – “Zona do Crepúsculo”

Aqui, a luz solar já é muito fraca, insuficiente para a fotossíntese. Ainda assim, essa faixa abriga uma variedade de espécies adaptadas a condições de penumbra, muitas das quais possuem bioluminescência — uma capacidade de produzir luz própria. Além disso, essa zona é essencial para o fenômeno da migração vertical, no qual algumas espécies sobem durante a noite para se alimentar nas camadas superiores e retornam às profundezas durante o dia.

Zona Batipelágica (1.000 a 4.000 m)

Um ambiente de escuridão completa. Nessa profundidade, não há qualquer vestígio de luz solar, a pressão é extremamente alta e as temperaturas são muito baixas. Ainda assim, a vida persiste, com organismos altamente especializados e adaptados a essas condições extremas.

Zona Abissopelágica (4.000 a 6.000 m)

Essa região é uma das menos exploradas dos oceanos e se caracteriza por um ambiente particularmente hostil. Poucas formas de vida conseguem sobreviver ali, sendo a maioria composta por invertebrados e bactérias que se adaptaram a viver em condições severas de pressão e escassez de nutrientes.

Zona Hadal (abaixo de 6.000 m)

Corresponde às regiões mais profundas dos oceanos, como as fossas oceânicas, incluindo a famosa Fossa das Marianas. Essa faixa extrema abriga formas de vida ainda pouco conhecidas, muitas das quais surpreendem os cientistas pela capacidade de sobreviver em ambientes tão inóspitos e de difícil acesso.

imagem: bioicos.org.br/post/zonas-de-mar-profundo

Por que a coluna d’água é importante?

A coluna d’água é essencial para uma série de estudos e pesquisas científicas, pois ela desempenha um papel central na compreensão do funcionamento dos oceanos e de seus impactos sobre o planeta.

No campo dos estudos ambientais, por exemplo, sua análise permite monitorar fenômenos como o aquecimento dos oceanos, a acidificação da água e a presença de poluentes.

Já na biologia marinha, a coluna d’água revela como os organismos marinhos se distribuem de acordo com a profundidade e as diferentes condições físico-químicas do ambiente. Além disso, ela está diretamente ligada ao clima global por meio da circulação de nutrientes e da transferência de carbono entre suas camadas, o que influencia diretamente o ciclo do carbono e os padrões climáticos.

O que mais a pesquisa sobre microplásticos nos oceanos revelou?

O estudo também identificou 56 tipos diferentes de polímeros plásticos nos oceanos. Os microplásticos flutuantes são predominantes nas zonas costeiras, enquanto os mais densos – como aqueles originados de equipamentos de pesca e garrafas de poliéster – são mais comuns em águas profundas. Esses polímeros se degradam com o tempo, fragmentando-se em partículas cada vez menores e mais persistentes.

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Por exemplo, o polipropileno, usado em cordas e embalagens de iogurte, se decompõe mais rapidamente do que o polietileno, encontrado em sacolas plásticas. Isso pode explicar sua menor presença em determinadas áreas. Contudo, a análise global ainda enfrenta desafios, como a inconsistência nas técnicas de amostragem e a cobertura limitada de algumas regiões oceânicas.

Para a Dra. Tracy Mincer, coautora do estudo, os resultados estabelecem uma nova base para futuras pesquisas: “Nossas descobertas sugerem que os microplásticos estão se tornando uma parte mensurável do ciclo do carbono oceânico, com potenciais implicações para a regulação climática e as teias alimentares marinhas.”

O próximo passo, segundo os pesquisadores, é aprofundar a compreensão sobre o tempo de permanência do plástico nos oceanos e seu verdadeiro impacto na saúde do planeta.

Referência do post: The distribution of subsurface microplastics in the ocean.Nature.com

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